Desenvolvi o texto abaixo para o blog do site Controle Urinário (www.controleurinario.com.br). Para ler o conteúdo no próprio site, clique aqui.
Dentre as opções de tratamento das disfunções da bexiga, os medicamentos anticolinérgicos se apresentam como a primeira linha, tendo como principio a inibição da ação dos neurotransmissores responsáveis pela contração da bexiga e o consequente alívio dos sintomas de hiperatividade, seja com urgência miccional, frequência e ou incontinência urinária. Mas, não raro, esta classe de medicamentos é alvo de debates por médicos e pacientes, que buscam analisar seus prós e contras diante dos efeitos colaterais que apresentam.
Por isso convidamos o Dr. Márcio Averbeck (CRM 28361), chefe do departamento de Urologia Femininada Sociedade Brasileira de Urologia, para nos ajudar a esclarecer sobre o custo-beneficio do tratamento medicamentoso.
C. Urinário – Quais os principais benefícios do tratamento com anticolinérgicos?
Dr. Márcio – Os principais benefícios destes medicamentos podem ser listados entre:
Praticidade de administração pela via oral;
Efetividade pela redução da necessidade frequente de ir ao banheiro e da redução do número de perdas de urina;
O fato de não ser invasivo e não requerer internação;
Pela possibilidade de associação com outros tratamentos como, por exemplo, em pacientes que precisam se submeter a intervenções minimamente invasivas e somam com a medicação.
C. Urinário – Quais são os efeitos colaterais dos medicamentos anticolinérgicos e porque ocorrem?
Dr. Márcio – Os receptores colinérgicos são encontrados em diversos órgãos e sistemas do corpo humano. Como os medicamentos anticolinérgicos não atuam exclusivamente nos receptores existentes na bexiga, eles acabam gerando efeitos colaterais, sendo os mais frequentemente relatados pelos pacientes: boca seca e constipação intestinal, seguidos de tontura, visão turva, palpitações, sonolência, entre outros. Outra questão importante é que como estes medicamentos podem atuar no sistema nervoso central, devem ser utilizados com cautela em pacientes idosos, em função do risco de dano cognitivo (esquecimento, amnésia, etc.). Também são contraindicados em pacientes que sofrem de glaucoma, devido ao risco da pressão no interior do olho aumentar, com efeito negativo sobre a visão.
C. Urinário – Qual o índice de aceitação, bem como de desistência do tratamento medicamentoso com os anticolinérgicos?
Dr. Márcio – Segundo estudos epidemiológicos, estima-se que a taxa de abandono ao uso de anticolinérgicos supera os 70% após acompanhamento de um ano. Este alto índice de desistência do tratamento pode ser explicado, em parte, pela extensa lista de efeitos colaterais e pela possibilidade de falha do tratamento.
C. Urinário – O medicamento pode beneficiar mais ou menos diferentes perfis de pacientes? Quais?
Dr. Márcio – Para pacientes idosos, em especial aqueles com diagnóstico de disfunção cognitiva ou demência, seria indicado a administração especifica de anticolinérgicos com receptores mais frequentes na bexiga ou anticolinérgicos que não penetram no cérebro. Esta seria uma estratégia para minimizar os efeitos desta classe de medicamentos no sistema nervoso central. Mas, infelizmente, todos os anticolinérgicos disponíveis no Brasil atravessam, em algum grau, esta barreira e desta forma podem causar dano cognitivo. As vias alternativas de administração, como a transdérmica (através da pele) e a intravesical (no interior da bexiga), foram preconizadas para diminuir a possibilidade de eventos adversos, especialmente a boca seca. Mas, a administração de anticolinérgico por via intravesical seria restrita a pacientes que dependem da introdução periódica de um cateter/sonda através da uretra para esvaziar a bexiga (pacientes com bexiga neurogênica). As formulações transdérmicas de anticolinérgicos ainda não foram aprovadas para uso no Brasil.
C. Urinário – Para finalizar, qual o custo-benefício do tratamento com os anticolinérgicos, frente às outras opções terapêuticas?
Dr. Márcio – Como relatado anteriormente, tendo em vista a natureza não invasiva do tratamento com anticolinérgicos, estes medicamentos são tidos como a primeira linha de tratamento para os indivíduos que sofrem de bexiga hiperativa, que juntamente com os exercícios do assoalho pélvico representam uma estratégia efetiva de tratamento inicial para uma grande parcela de pacientes. Contudo, os efeitos adversos configuram o principal fator negativo destes medicamentos. Para aqueles pacientes que não toleram ou não melhoram com o tratamento medicamentoso, existem outras opções altamente efetivas e minimamente invasivas para combater os sintomas de bexiga hiperativa.